eu nunca quis ir embora do meu país
já quis sair de casa
em busca de liberdade
e outros ares para respirar
desejei sair até de mim
pra me encontrar
mas eu quis sair pra voltar
com algo novo pra contar
das sementes que podem brotar
em cantos onde o amor regar
mas não sei se sonho demais
não quero temer
porque o medo fede
mas e esse susto que me assola
ao ver meu país lar
minha terra mãe
tomada por uma doença tão vil
que não sei se nossa terra ainda pode ser fértil
depois de tantas violências
as nossas raízes
tão maltratadas
e agora meu sonho parece mais longe
um devaneio infante
em meio à este espetáculo de horror
protagonizado por monstros em ternos caros
vomitando e alimentando outros monstros
nem sempre tão bem vestidos
mas em essência reconhecidos
na falta de caráter e desumanidade
vocabulário e pensamento reduzidos
da ordem fazem ódio
e progresso
–
ainda não fui vencida
não estou sozinha
não sei que armaduras podem nos proteger
nem quando foi que nos botaram nesta guerra
estou à margem do abismo
e tento salvar meu sonho da queda
pra que ele alimente a mim
e outros que estão à margem
e cresça
para que ela se alastre
e que nossas armas amores e flores
sejam fortes e luminosos
para acabar com a cegueira
estancar a sangria
e num suspiro aliviado
ver nascer um novo dia