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Um grande ARGH!: Festival de Curitiba.

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Quase três semanas se passaram desde o fim do Festival de Curitiba. Desde então, venho tentando “digerir” o evento, em toda a sua extensão. Confesso: ainda estou com o estômago embrulhado.

Metáforas à parte, devo primeiramente dizer que sou estudante de teatro, pretensa atriz e por que não, crítica. Mas antes de tudo isso, sou público. Pagante, ou não. Sou espectadora, participante, parte de um acordo selado logo à entrada do teatro (salvo apresentações de teatro de rua, mas os acordos existem, sim). E como público, quero me emocionar, me transportar para outro lugar-espaço-tempo-história. Não quero que uma hora se transforme em quatro, que o meu relógio se torne mais interessante do que o que está sendo apresentado. Eis a primeira questão: quais são os critérios para seleção dos espetáculos da mostra oficial do Festival de Curitiba? Qualidade? Nomes famosos? Figurinhas carimbadas desta ou daquela emissora?

Infelizmente o que menos vi foi qualidade. Montagens com figuras consideradas gabaritadas e de renome fazendo feio, apresentando produtos que não chegavam ao nível de entretenimento, pois nem nesse quesito conseguiam cumprir tabela. Vi trabalhos dotados de tanto clichê, que me senti lesada por ter pago R$25,00 (meia-entrada) para assisti-los, ansiando por qualidade e alimentando as expectativas despertadas através de fotos e sinopses, expectativas estas, frustradas.

Chego a cogitar a hipótese de pedir reembolso por alguns espetáculos, como um, que por se tratar de um texto clássico, gerou certo interesse e decepcionou fortemente, ao apresentar uma quase leitura-dramática, com atores canastrões e péssima direção de cena, se considerarmos que foi apresentado no Teatro Paiol, em formato de semi-arena, tendo uma direção típica de palco italiano. Além disso, cenário e figurinos eram praticamente inexistentes, deixando a desejar, em vista do alto preço do ingresso.

Notei que muitos espetáculos fizeram a sua estréia nacional ou internacional no Festival. Ao mesmo tempo em que isso pode sinalizar prestígio para o Festival e o público curitibano, se tratando de nomes como a Cia de Dança Deborah Colker, por exemplo, também pode soar como descuido, visto que muitas dessas peças não passaram pelos termômetros principais, como o contato direto com o público e a análise dos críticos.

Outro fator que chama a atenção da curadoria do Festival de Curitiba, são os prêmios, falando agora de montagens que já contam com algum tempo de circulação. Esse critério é mais aceitável, quando comparado ao anterior, visto que traz trabalhos já reconhecidos, isso se não colocarmos em dúvida o padrão de qualidade levado em conta pelos veículos que premiam tais produções.

Todos os anos, o Festival, em especial a sua mostra oficial, oferece várias peças com atores, produtores, diretores, etc bastante conhecidos, seja por estamparem folhetins de emissoras famosas, seja por realizarem mega-produções, ou ainda por serem nomes consagrados no panorama artístico.

Uma das minhas maiores decepções nesse Festival, engoli sem querer, no susto: Adultério. No dia 31 de março, a (des)organização do Festival de Curitiba divulgou que haveria uma sessão extra gratuita do espetáculo Anjo Negro, no Teatro da Reitoria, às 19 horas. Às 18 horas eu e mais algumas pessoas já nos agrupávamos em frente ao teatro, esperando a distribuição dos ingressos, quando o boato de que a peça apresentada não seria a divulgada, começou a rolar. Justificaram dizendo que a apresentação seria Adultério, do grupo Atores de Laura, e que houve um “equívoco” na divulgação. A péssima impressão que fica é que utilizaram o nome Anjo Negro como chamariz de público, já que essa montagem estava com ingressos esgotados e grande procura.

Equívoco ou não, fato é que trata-se de mais um caso de desrespeito com o público, mais um, para a coleção desse nosso Festival de Curitiba, anteriormente Festival de Teatro de Curitiba.

Desta coleção ainda fazem parte: a extensa lista de atrasos ocorridos nos espetáculos; preços muito altos, para um festival que está pago antes mesmo de abrir sua bilheteria; dados divergentes na programação (site e livreto); cancelamento de apresentações; peças de rua que não aconteciam ou simplesmente mudavam de local, sem aviso prévio.

No primeiro fim de semana, fui assistir à montagem da Sutil Cia, acreditando que ficaria no respectivo teatro por duas horas, como constava no livreto da programação. Assim, comprei também ingresso para assistir à outra montagem, muito comentada e que ansiava por ver: Oxigênio, da Cia Brasileira de Teatro. Porém, a peça da Sutil tinha mais de três horas de duração, e assim sendo, perdi meu dinheiro, o ingresso e (mais ainda) o respeito pela organização do Festival.

Além disso, um espetáculo que conta com mais de três horas de duração, não deveria estar em cartaz às 21 horas (sem falar no atraso de meia hora) em pleno domingo. O Festival acontece, parece festa, mas a maioria das pessoas precisa trabalhar para pagar os ingressos de tal entretenimento e conclui-se que acordam cedo. E aí está, mais um grande descaso com o público, que sai do teatro à 1:30 da manhã de uma segunda-feira.

Venho acompanhando o Festival de Curitiba há alguns anos. Suas mudanças, facetas, preços, equívocos… Já vi edições anteriores melhores. Questiono então, a postura do “quanto mais melhor”. Notadamente, o Festival vem crescendo a cada ano. Quantidade, sim, mas em detrimento da qualidade, já que não há mais uma forte preocupação em selecionar o que será oferecido. O que se quer é poder dizer que temos o maior festival de teatro da América Latina. E será o pior também?

Critico sim, de forma veemente, muitas posturas do Festival de Curitiba. Vejo que há uma subjetiva cultura de pão e circo, se pensarmos no tamanho do público que vai ao Festival e no público que frequenta teatro também durante o resto do ano. Tais públicos se comportam de maneiras distintas: o público do festival se comporta quase como palhaço, aplaudindo de pé tudo o que veem, mesmo que tenham dormido a maior parte do espetáculo; já o público tipicamente curitibano, mais reservado, geralmente só aplaude de pé o que tem mérito para tanto. Então o que seria agora o Festival de Curitiba, mais do que um grande encontro multi-artístico? Um evento caro para burguês ver?

Para não citar somente os pontos negativos, acredito no posicionamento do Festival enquanto evento multi-artístico. Shows como o da banda Pato Fu (aliás, a melhor coisa que vi nesse Festival) conquistaram platéias de todas as gerações, trazendo mais dinamicidade ao Festival, e é claro, mais público.

A conclusão a que me permito chegar, enquanto profissional do meio e também espectadora assídua, é que desacredito cada vez mais o Festival de Curitiba. Seus pontos negativos superam em muito os positivos. E assim, não mais comprarei ingressos exorbitantes, não mais farei papel de palhaça (com todo respeito à esta categoria, que amo e integro). Não criarei expectativas para com um evento que não mais surpreende e quase não emociona. Não pagarei para ser derespeitada por um Festival que negligencia a qualidade de sua produção e também o seu público.

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Agora dá licença que eu vou ali tomar um “Eno” pra ver se curo essa azia pós-festival.

De prontidão.

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Talvez seja uma questão de mudar de estratégia.

Penso em agrupar tentativas de romancear o que já havia sido esquecido.

Talvez a minha resposta à uma cara fechada, deva ser um sorriso aberto. Talvez o meu abraço esteja pronto a qualquer circunstância, a qualquer momento e só se complete com o seu. Talvez o meu olfato só se encante pelo seu cheiro. Talvez os meus olhos cansados sempre procurem os seus, à espreita, distraídos…

Desejo, antes de qualquer coisa, um punhado de sinceridade e compreensão. Se vier de acompanhamento um pouco de amor e carinho, tudo bem, melhor.

O que eu ofereço também não é tão pouco assim. Um prato feito, mas feito com toda a ternura que só encontrei em um lugar, naquele entardecer, no fundo dos olhos…

Teus, meus.

E depois, de todas as refeições, pratos feitos e desfeitos, talvez lavar a louça, molhando a barra da camisa na pia, lado a lado, assim mesmo: comuns, despreocupados, sem pose, sem nada que não seja o que nos mantém vivos.

De pé, olhos abertos, de prontidão.

Porque eu confesso, ridiculamente, me sentindo uma tola (ainda que leve), confesso: preciso de um amor, do seu amor, pra poder sorrir.

Repito, repito quantas vezes for preciso que:

Eu ainda seguro a sua mão e enquanto essa for a minha verdade, a minha certeza, será a minha coordenada. Vou ter um ponto pra seguir. Serei grande. Caminharei, sem abrir mão das nossas lutas, pois elas nos farão maiores, nos manterão de mãos dadas, atadas, olhos fechados e coração tranquilo.

Enquanto eu puder olhar por você, enquanto pudermos ser o chão, o céu. Enquanto pudermos ser suficientes, únicos, eternos.

Entre tantos atritos, nós, engarrafamentos e desencontros, quero a sorte de um amor mais tranquilo.

E lá no fundo dos meus olhos, dos teus olhos, eu ainda espero, ainda quero, ao final de cada dia, ao entardecer de cada sorriso, encontrar uma coordenada que nunca, nunca muda. – você.